DO QUE FOI ESQUECIDO - PT 2

Foi embora a Flávia.

Veio à minha casa, não muito feliz. Mais ou menos angustiada. Eu escrevia, não dei muita atenção a ela.

Ela pegou seus livros, suas roupas limpas e suas fotos. Chorou, gritou histericamente "eu não mereço" e bateu a porta com força.

Só então eu dei por mim.

Acendi um cigarro e tentei entender.

Olhei em volta e ainda a encontrei no meu guarda-roupas: suas cartas ainda estavam lá. Encontrei-a no bolso da minha camisa: sua foto 3x4 ainda estava lá. Fui ao banheiro, encontrei-a lá também: algumas peças de roupa suja dela ainda estavam lá.

Fiquei atordoado. Simplesmente não entendia.

Entrei no quarto e fechei a porta. Daí então, entendi o que se passava.

Havia um casaco pendurado atrás da porta: encontrei a Sofia.

DO QUE FOI ESQUECIDO - PT 1

Conheci a Sofia na festa do André, bem no começo. A boate estava lotada. Gostei do jeito que ela tropeçou em mim. Foi um ótimo pretexto para iniciarmos o diálogo (aliás, que maneira mais fria de definir o flerte: "iniciar o diálogo"). "Desculpa" ela falou após o tropeço, "Não desculpo, não! Isso não tem perdão!" falei eu logo em seguida. Após isso ela deu um largo sorriso e continuou falando. Deduzi logo que havia condições.

Conversamos por horas, enquanto eu bebia rum e ela bebia chopp.

Durante a conversa, fui saudado rapidamente pela Catarina, amiga da minha namorada, mas nem me preocupei, afinal, não estava fazendo nada demais.

Se embebedou rápido demais para quem bebia chopp. Foi fácil levá-la à minha casa que ficava a quarenta minutos da boate. Pouco tempo depois de fazermos tudo que tínhamos de fazer, ela já estava dormindo.

Acordou às 9h, me acordou em seguida:

- Quem é você? Onde eu estou?

Expliquei tudo, ela se espantou, pegou suas coisas e foi embora. Voltou 10 minutos depois e pediu meu telefone.

Usou o velho truque de esquecer algo. Ela tinha esquecido o casaco dela que acabou ficando lá, da mesma forma que ela deixou. Queria de qualquer jeito voltar pra pegar de volta e não adiantou eu insistir em leva-lo pra ela. Ela queria por que queria pegar pessoalmente.

Me ligou duas vezes naquele dia, três vezes no dia seguinte e queria me ver novamente no sábado. Reclamou que eu não a ligava e eu tive que contar que tinha namorada. Ela se decepcionou.
Mas a gota d'água mesmo foi quando eu quis dizer a ela que não podíamos mais nos ver, que eu amava minha namorada:
- Olha, você tem que entender que... qual é mesmo o seu nome?
- É Sofia, Eden! Sofia! Você realmente é um insensível. Me esquece!
Sofia... belo nome. Quis me ter só para ela. Amor egoísta. Não preciso de mais um.
Ela tinha namorado. Digo "tinha" por que alguém a viu saindo da boate comigo e contou ao namorado dela.

Minha namorada me ligou na quarta. Confirmou que volta na segunda-feira. Perguntou como eu estava e blá blá blá. O velho papo-furado de sempre.

Depois a Sofia me ligou na quinta e ainda na sexta com esperanças de que eu saísse com ela no sábado. Neguei de todas as formas possíveis.
No sábado a Flávia me ligou, a Sofia não.
Sábado à noite, me ligou também a Suzana (ex-namorada que ainda saía comigo). Dispensei a companhia.
No domingo, minha namorada me ligou, a Suzana ligou novamente. O André me ligou pro futebol (dispensei). Nada de Sofia.
Na segunda, minha namorada terminou comigo.
Na terça-feira o telefone não tocou. Nem na quarta. Nem na quinta.
Nada de Flávia, nada de Sofia, nada de Suzana. Nada de Sofia.

Sofia... Sofia... belo nome...